A Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica que tem seu nascimento
oficial marcado pela publicação, em 1951, do livro “Gestalt Therapy: excitement
and growth in the human personality”, escrito por Frederick Perls, Ralph
Hefferline e Paul Goodman. Publicado no Brasil, em 1997. A Gestalt-terapia
surgiu no século passado, na década de 50, nos EUA, como uma nova
abordagem psicoterapêutica (RODRIGUES, 2000). Seu nome é proveniente da
Psicologia da Gestalt, que pesquisa as formas de percepção do mundo, a
maneira como vemos as coisas (a percepção visual). A palavra "Gestalt" é
alemã e não tem tradução literal para nossa Língua, mas possui um significado
de "dar forma", de "partes que se relacionam formando um todo". Deste
princípio (ver as coisas como um todo, holisticamente) e considerando ainda
importantes contribuições filosóficas, surgiu um ímpeto transformador em
psicoterapia.
Nasceu, então, no início da década de 50, mas foi principalmente a
partir da década de 60, com o surgimento dos movimentos de contracultura,
que a Gestalt-terapia encontrou espaço para se expandir, principalmente nos
EUA, tendo em vista ter se criado o terreno propício para o desenvolvimento
das suas idéias tão inovadoras e revolucionárias dentro do cenário
psicoterápico da época. Aos poucos, foi se afirmando e exercendo atração em
muitas partes do mundo. Na época, surgiu enquanto uma proposta clínica,
mas, atualmente, vem sendo desenvolvida em outros campos de atuação do
psicólogo, refletindo e acompanhando as diversas transformações que vêm
ocorrendo no mundo ao longo dos tempos; principalmente, em relação aos
novos paradigmas das ciências, visto que ela oferece uma visão integrada dos
fenômenos do Universo, ou seja, uma visão holística da realidade
(RODRIGUES, 2000).
Frederick Perls, judeu alemão, comumente chamado de Fritz, é visto
como o principal criador da Gestalt-terapia; no entanto, muitos a consideram
fruto, sobretudo, das discussões e produções do chamado “grupo dos sete”, do
qual Fritz fazia parte; era um grupo de intelectuais não-conformistas, que
questionavam os códigos sociais vigentes na sociedade americana do pós-II
Guerra, e buscavam um estilo de vida e de expressão mais autênticos.
Segundo PIMENTEL (2003), a Gestalt-terapia é uma abordagem cujo
conceito básico consiste na indissociabilidade da consciência e de seus
objetos ela está entre as abordagens fenomenológicas existenciais.
A visão holística da Gestalt-terapia envolve compreender o homem, a
natureza, o Planeta, cada ser vivo, cada objeto ou fenômeno do Universo,
enquanto uma totalidade; ou seja, enquanto uma unidade indivisível, um todo
que é muito maior que a soma de suas partes, pois só pode ser compreendido
pelas interações entre as partes que o compõem. Sendo assim, esta visão de
que tudo no mundo se encontra numa relação de interdependência e que, com
isso, nada pode ser compreendido isoladamente, nos remete à palavra gestalt;
esta, apesar de não encontrar equivalentes em outras línguas, significa
estrutura ou configuração, e envolve a idéia de totalidade e de organização
A Gestalt-terapia compreende, então, o homem enquanto uma
totalidade, ou seja, um sistema integrado e organizado, uma unidade indivisível
corpo/mente, onde não há separação entre as partes que o compõem, mas sim
integração, correlação, organização e interdependência (MAYER, 1986).
Assim, não há no homem separação entre o seu sentir, o seu pensar e o
seu agir. Sua mente, seu corpo e suas manifestações são partes de um todo,
ou seja, são formas diferentes de expressão daquele ser humano e estão,
portanto, integradas e contribuindo para a configuração desse todo. Desta
forma, se algo muda em qualquer uma das suas partes, seja um aspecto
emocional, mental, físico ou espiritual, o todo é reconfigurado, surge uma nova
organização, uma nova gestalt (PERLS, 1997).
A visão holística da Gestalt-terapia aponta, também, para uma
compreensão do homem enquanto parte de uma totalidade mais ampla e mais
complexa, que representa o contexto no qual ele se encontra inserido.
Considerando, então, o homem enquanto um ser-no-mundo, um ser de
relação, procura focalizar a totalidade da relação que o indivíduo estabelece
com o seu meio (MAYER, 1986).
Esta relação indivíduo-meio é compreendida na Gestalt-terapia, a partir
das noções de singularidade, de liberdade e de responsabilidade; e a partir da
crença no potencial criativo do homem, no seu poder de recuperação e de
transformação, na sua tendência ao equilíbrio, à autorregulação, ao
crescimento; na sua capacidade de se construir e reconstruir na sua relação
com o mundo, sem desconsiderar, contudo, os limites, as dores, os conflitos,
as contradições, que essa construção pode envolver.
Dessa forma, os métodos que o gestalt-terapeuta se utiliza para abordar
a experiência humana implicam em compreender o indivíduo como um ser uno;
considerando, então, não somente o seu discurso, o seu corpo ou o seu
comportamento, mas todas as manifestações de suas dimensões sensoriais,
afetivas, intelectuais, corporais, sociais e espirituais, visando a alcançar a
totalidade e a singularidade da relação do parceiro terapêutico (PT) cliente
consigo mesmo e com o mundo, visando a alcançar o verdadeiro sentido do
seu viver (PERLS, 1997).
O gestalt-terapeuta vai ao encontro da realidade do parceiro terapêutico;
investigando as suas experiências da forma como elas acontecem e se
processam. No entanto, o sentido dessa relação do parceiro terapêutico com
seu meio será dado pelo próprio parceiro terapêutico; o terapeuta é apenas um
facilitador nesse processo de investigação, de compreensão deste sentido.
Sendo assim, o gestalt-terapeuta utiliza um método descritivo e não explicativo;
ou seja, procura investigar o que está acontecendo com o parceiro terapêutico
e como está acontecendo; procurando, através de uma postura interessada,
presente e acolhedora, sem “a prioris”, colocando de lado os julgamentos, os
conhecimentos anteriores, os pré-conceitos, focalizar aquilo que o parceiro
terapêutico manifesta no momento presente, no aqui-agora da relação
terapêutica (PERLS, 1997).
Com isso, o terapeuta procura facilitar o processo de autoconhecimento
do parceiro terapêutico, o processo de conscientização sobre si mesmo na
relação com o mundo, de forma que ele possa conhecer e experimentar aquilo
que ele está podendo ser naquele momento; conhecendo tanto os seus
recursos, suas habilidades, como os seus impedimentos, as suas dificuldades,
ou seja, tanto aquilo que é saudável quanto o que não é saudável na busca
pela satisfação das suas necessidades na relação com o mundo (PERLS,
A Gestalt-terapia acredita numa sabedoria organísmica, ou seja,
acredita que quando o indivíduo encontra um ambiente e relações favoráveis,
confirmadoras e não judicativas; ele tende, naturalmente, ao crescimento e
desenvolvimento de suas potencialidades, tende a realizar novas e melhores
escolhas, no seu processo de construção e reconstrução de si mesmo e da
sua vida. Assim sendo, a Gestalt-terapia dá uma grande ênfase à relação
terapêutica, pois ela representa um microcosmo onde o parceiro terapêutico, a
partir do ambiente favorável, seguro e confirmador que é fundamental que o
terapeuta favoreça, poderá experienciar aquilo que ele é, assim como novas
formas de interação, novos sentimentos, novos comportamentos, novas
percepções; e, assim, caminhos mais satisfatórios na sua relação com o
mundo e consigo mesmo, de modo a conquistar o seu bem-estar e uma melhor
qualidade de vida (PERLS, 1997).
“Gestalt-Terapia, mais que uma abordagem psicoterapêutica, é, antes,
um estado de espírito, uma filosofia de vida, um jeito de ser-e-estar-no-mundo,
a arte de flagrar o real” (BERVIQUE, 2007, p. 29).
BIBLIOGRAFIA DE APOIO.
BERVIQUE, J. de A. A bênção, Fritz...: Gestalt-terapia, eu e você. 2. ed.
Bauru: EDUCON, 2007.
GINGER, S.; GINGER, A. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo:
Summus, 1995.
MAYER, E. L. Frederick S. Perls e a Gestalt-terapia. In: FADIMAN, J; FRAGER,
R. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.
PERLS, F. S. Gestalt – terapia explicada. São Paulo: Summus, 1997.
POLSTER, E.; POLSTER, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus,
2001.
PIMENTEL, A. Psicodiagnóstico em Gestalt – terapia. São Paulo: Summus,
2003.
RODRIGUES, H. E. Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os
fundamentos da abordagem gestáltica, Petrópolis. RJ: Vozes, 2000.
YONTEF, G. M. Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus, 1998.
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