quinta-feira, 2 de setembro de 2010

MOTIVAÇÃO: A DIFERENÇA ENTRE O COMPORTAMENTO HUMANO E O
COMPORTAMENTO ANIMAL.


          Dentro do tema da teoria da motivação, cabe muito bem fazer a diferenciação entre o comportamento humano e o comportamento animal para identificarmos porque o homem, mesmo depois de ter satisfeito suas necessidades básicas, ainda continua em busca de outras realizações e conquistas. No mundo animal, sabemos que há a adaptação do corpo do animal ao meio ambiente, por exemplo, animais cuja coloração da pele ou couro se assemelha as folhagens. Há também a adaptação da natureza ao corpo do animal, por exemplo, o buraco que o tatu faz, a casa do João de barro são adaptações do ambiente ao corpo. 
           Tudo isso é feito e transmitido sem palavras, sem aulas
e há milhares de ano fazem do mesmo jeito. Isso porque o animal vive segundo um programa
comum a toda espécie que se repete de geração após geração. O animal é o seu corpo e cada corpoproduz sempre a mesma coisa. Determinado animal nos permite prever o que será e o que produzirá. Por que? Porque sua programação biológica é completa, fechada, predeterminada e perfeita. Não possui perguntas sem respostas, não há problemas não respondidos. Por isso mesmo, não possuem qualquer brecha para que alguma coisa nova seja inventada. Suas vidas ocorrem e processam-se num mundo estruturalmente fechado, tendo satisfeito suas necessidades básicas, o comportamento de busca termina. Como são diferentes as coisas com o homem! 
          Tomemos como exemplo uma criança: do ponto de vista genético, ela já se encontra totalmente determinada: cor de pele, dos olhos, tipo de sangue e sexo de acordo com seus genitores. 
          Mas como ela será? Gostará de música? Mas de que Música? Que língua falará? E qual será o seu estilo? De fato, a programação biológica continua a operar, mas ela diz muito pouco acerca do que essa criança fará por este mundo. Podemos dizer então que, na vida do ser humano, os equipamentos inatos são insuficientes, que somos seres inacabados, limitados e carentes. Somos seres em processo, conscientes ou inconscientes, empenhados na construção da nossa personalidade e na abertura de nossos caminhos. 
          Estamos num processo de autoconstrução. Como disse Albert Camus, “O homem é a única criatura que se recusa a ser o que ela é”. Por se recusar a ser o que é, os homens se tornaram inventores de mundos. Segundo Rubem Alves, “os homens plantaram jardins, fizeram casas, palácios, construíram tambores, flautas e harpas, fizeram poemas, transformaram seus corpos cobrindo-os com tintas, anéis, metais, inventaram bandeiras, ergueram altares, enterram seus mortos e criaram a cultura”. Toda essa produção sugere que o homem é um ser de desejo, um ser que cria os objetos para satisfazer seus desejos. 
        Se no mundo animal o imperativo é a sobrevivência, onde satisfação das necessidades básicas é suficiente, o homem foi além dessas necessidades, foi além de seus instintos, onde o corpo não dá as suas últimas ordens e os instintos deixaram de dar suas ordens finais como fazem nos animais. Daqui nasce a compreensão sobre a natureza da motivação humana: o homem é um ser aberto para o mundo, sua programação biológica obedece até certo ponto, uma voz, mas não está fechada e determinada totalmente, possui inúmeras perguntas sem respostas. 
        Se no passado, pensadores fizeram sérios esforços para demonstrar que o homem é um ser racional, ser de pensamento, o que ele produz e o que ele inventa, sugerem ao contrário, que o homem é um ser de desejo, de apetite insaciável, que mesmo satisfazendo suas necessidades básicas, surgirão inúmeras outras vontades, motivos, desejos,carências e sonhos. Esse ciclo de: carência, busca e realização não cessa nunca e sempre outro ciclo emergirá. É isso que faz com o que homem, diferentemente do animal, comporte-se em busca de transformar sua história e o seu mundo.

Professor Márcio Roberto Agostinho
Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde
Coordenador do Curso de Psicologia

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